Sempre tive problemas para quebrar expectativas. Talvez porque, para mim, desde pequena elas sempre foram fáceis de atender e eu sempre o fazia com tanta maestria que ensinei sem querer as pessoas a sempre esperarem mais e mais. E eu sempre consegui dar tudo o que esperavam, mas chega uma hora que isso cansa. Chega uma hora que meio que nos esquecemos para nos encaixar onde o outro acha que nos cabe porque quebrar essa expectativa doía.
Chegou uma hora que tinha tantas versões diferentes de mim, pensadas para agradar diferentes pessoas que eu simplesmente me esqueci de quem eu era.
Eu nunca soube lidar com a rejeição, com o desgostar. Isso pra mim sempre foi o fim do mundo, tanto que eu me desdobrei e passei a vida esquetando a cabeça para agradar e ser gostada por tanta gente que eu esquecia de gostar de mim. Admirava em segredo todos que tinham a coragem de ser o que eram e impor isso aos outros sem medo.
Porém, fui aprendendo a lidar com isso, e ainda estou aprendendo. Percebi o quanto eu perdia por puro medo de causar desagrado. E fui desapegando disso. Foi e ainda é doloroso e desagradável esse processo, mas aprendi a gostar de mim muito mais nesse meio tempo e também fui percebendo como os “gostares” e as admirações se tornam mais sinceros.
É meio errado me basear na forma como terceiros fazem eu me sentir para poder me sentir mais segura comigo, porém esse acabou sendo o pontapé inicial para que eu conseguisse me reconhecer. Quando percebi que era gostada sem esforço, simplemesnte por ser eu, e que era muito mais fácil e mais feliz ser assim, fui pegando gosto pela coisa e eu era cada dia mais eu. Hoje em dia quase gosto de ser desgostada.
As dificuldades em lidar com a quebra de 19 anos de expectativas acumuladas foi um baque, porém me sinto forte para aguentá-lo, pois sei que vale a pena. É por mim que estou lutando. É por mim que venho dando a minha própria cara à tapa e isso é maravilhoso. Cada dia mais eu amo ser eu, e amo amar isso. Amo amar esse processo, essa fase. Espero não esquecer esse sentimento quando estiver passando por outras fases ruins, que eu sei que virão. Mas não sou tão frágil como me fiz acreditar, nem tão durona que não possa vacilar.
Ja diziam Los Hermanos, e o que eu sou é também o que eu escolhi ser, eu aceito a condição.
“Então, minha querida Amélie, não tem ossos de vidro. Pode suportar os baques da vida. Se deixar passar essa chance, com o tempo seu coração ficará tão seco e quebradiço quanto meu esqueleto. Então, vá em frente, pelo amor de Deus.”
O fabuloso destino de Amelie Poulain